Plenária do Travessia aponta rumos para as lutas dos(as) trabalhadores(as) da Unicamp

Encontro discutiu a construção do programa da chapa que disputará as eleições para a nova diretoria do STU (2025-2028)

No início deste mês (07/06), integrantes e simpatizantes do coletivo sindical e popular Travessia se reuniram na sede do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) para debater o programa da chapa que irá participar da eleição para a próxima gestão da entidade, que acontece entre os dias 20 e 22 de agosto. Além de analisar a atual conjuntura política da Unicamp, foram levantadas pelos(as) participantes propostas para o sindicato e para as lutas que serão travadas pela categoria nos próximos anos.

Integrantes e simpatizantes do Travessia Unicamp participam de plenária para discutir programa da chapa para eleição da nova diretoria do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU).

Na análise dos(as) participantes, o principal desafio para o próximo período é que o STU consiga se reaproximar da base de trabalhadores(as), para que nossa entidade volte a ser reconhecida como um sindicato de luta, com total independência da reitoria. Para isso, uma das prioridades é realizar regularmente visitas nos diferentes locais de trabalho, com atenção especial à área da saúde (Hospitais, Gastrocentro, Hemocentro, Cecom etc.), Diretoria Geral de Administração (DGA), Divisão de Educação Infantil e Complementar (DEdIC), e outros setores que têm papel fundamental na mobilização dos(as) servidores(as).

Por um sindicato de luta e independente da reitoria

Entre as propostas discutidas durante a plenária, está o fortalecimento de ações para a conscientização de classe e formação política, como a criação de uma escola permanente de formação sindical, que permita a formulação de novas estratégias e táticas de organização dos(as) trabalhadores(as) e a formação de novos quadros e lideranças. A defesa de um novo modelo de universidade pública, a crítica ao produtivismo acadêmico, à terceirização e à precarização do trabalho na Unicamp também foram pontos centrais dos debates realizados, apontando como prioridade a luta pela paridade nas consultas para a reitoria e por uma universidade democrática, em especial através da ampliação de nossa participação nas diferentes instâncias colegiadas, como o Conselho Universitário (Consu).

Foram também enfatizadas durante o evento pautas importantes que seguem centrais para a categoria, como a luta contra a implantação do Ponto Eletrônico, a defesa de um modelo de carreira construído pelos(as) trabalhadores(as), melhorias no Iamspe e a construção de um Hospital Regional do Servidor Público na Unicamp, a extensão de todos os benefícios aos(às) aposentados(as), e a implantação de novas estratégias para o enfrentamento dos crescentes casos de assédio sexual e moral na Universidade, que têm tido como alvo principal, infelizmente, as mulheres trabalhadoras.

Além de repensar o papel e as responsabilidades que devem ser assumidas pelos(as) dirigentes sindicais no próximo mandato, os(as) participantes também enfatizaram a urgência de modernizar as estratégias de comunicação STU, lançando mão de ferramentas mais eficientes, inclusive softwares livres, para melhorar o diálogo e a mobilização da base.


Confira abaixo trechos das discussões realizadas na plenária do Travessia:

“Esse conceito produtivista é o que traz o modelo do Ponto Eletrônico, do massacre e do adoecimento dos trabalhadores, das perseguições que acabam acontecendo, e do enxugamento do quadro dos técnicos administrativos da Universidade. Os primeiros alvos foram os servidores de nível fundamental, os próximos serão os de nível médio. O projeto produtivista da Universidade é ter somente funcionários de nível superior – com a ajuda das novas tecnologias, como a inteligência artificial –, e terceirizar todos os outros setores. É contra esse modelo produtivista que nós estamos lutando” (Toninho – PRG)

“A gente é tratado como funcionário desde quando a gente entra na escola. Durante toda a nossa vida escolar, é ‘nós contra eles’. Chega no Vestibular, todo mundo é concorrente. A gente se trata, entre a gente, como concorrentes, não como pares, não como coletivo. Eu acho que a gente precisa virar essa chave: esse deve ser o foco da discussão” (Allan – Cotuca)

“As pessoas adoram falar em otimizar o trabalho. O que o Ponto Eletrônico vai otimizar no trabalho? O que vamos conseguir entregar para a sociedade com essa otimização? Nada! Só adoecimento” (Rubens – DGA)

“As decisões que são tomadas sobre as tecnologias que serão utilizadas, para onde nossos dados vão, quais ferramentas os funcionários vão ter acesso e vão poder construir, não estão sendo pensadas politicamente. Então é preciso se aproximar dessa galera da tecnologia” (Michel – IE)

“O pessoal da área da saúde que está na direção do sindicato hoje não tem conseguido organizar os(as) trabalhadores(as) para o enfrentamento. É necessário retomar a organização desta que é uma das mais importantes áreas da Universidade” (Gerusa – Aposentada Área da Saúde)

“A gente tem visto muitos casos de assédio moral na Universidade, principalmente com quem está em estágio probatório. Eu acho que a gente precisa acolher essas pessoas, pois a gente vê essas coisas acontecendo, sobretudo com mulheres. Isso não está sendo discutido em nenhum lugar, então é uma luta que o sindicato precisa assumir também. Os casos de assédio moral e sexual dentro da Universidade não estão sendo discutidos e não estão sendo acolhidos por ninguém, nem mesmo pela própria instituição” (Núria – Cotuca)

“Não sabemos a força que nós temos. Precisamos estar mais conscientes do que a gente pode: nós somos mais de 6 mil funcionários. Temos um Consu com 80% de docentes que mandam aqui na Universidade – a nossa representação é ínfima. A questão da paridade é muito importante para que a gente tenha força para lutar, são várias as frentes que a gente tem para atuar, e tentar trazer de volta a ideia do que é um sindicato, qual é a função do sindicato. A gente que é mais antigo sabe de todas as conquistas que tivemos nesse período de luta, mas muitas delas estão se perdendo. Agora estão terceirizando até os serviços administrativos. A gente tem que lutar contra esse “progresso” que está vindo por aí, porque uma hora a gente vai perceber que não tem mais funcionário da Unicamp: é tudo terceirizado. Eles estão focando nas atividades-fim, e as atividades-meio estão terceirizando. Já ouvi reitor falar que quem constrói a Universidade são os docentes – ele esquece que a gente está aqui: a gente que carrega o piano, que vai limpar a sala, acender a luz, ligar o equipamento. Então essas coisas precisamos resgatar: a importância que nós temos. A Unicamp só é o que é hoje porque tiveram pessoas que levantaram essa Universidade” (Mike – FE)

“A gente está num momento do Travessia muito organizado. Se a gente está colhendo frutos, como foi a aprovação da nossa tese como guia no Congresso do STU, é porque a gente está se organizando dessa maneira horizontal, querendo que todos e todas tenham voz e participem. Mas precisamos lembrar que apenas 27 diretores não fazem a luta: cada um da base é importante para nossa luta” (Juliana – SEC)

“As lutas que a gente construiu dentro da universidade estão ficando muito diluídas. Parece que quem chega não consegue entender que tudo que a gente conseguiu foi fruto de afronte e muita punição, e mesmo assim a gente continuou, a gente não se dobrou” (Jéssica – Aposentada DEdIC)

“Cada um de nós, ao receber um voto, ao estar na direção do sindicato, precisa entender que não é porque as pessoas queriam que a gente estivesse lá a princípio: é porque nós nos dispusemos a representá-los(as), fomos nós que pedimos por isso. E se nós pedimos, nós temos a obrigação de fazer, ou ao menos tentar fazer e lutar por aquilo que a gente falou” (Angelo – IFGW)

“Estou com o Travessia porque, para mim, o nosso coletivo é o que de fato discute política na Unicamp, pensando também em políticas públicas” (Edith – Aposentada Caism)

“O que eu gosto no Travessia é que a gente coloca nossas propostas para serem debatidas, sempre de uma forma construtiva: nenhuma ideia é melhor do que a soma da ideia de todos(as)” (Cabelo – Detic)

“Estou com o Travessia porque foi o único grupo que não apoiou nenhum candidato à reitoria da Unicamp. Eu estou com minha saúde debilitada, mas estou disposto a ajudar o Travessia a construir um caminho digno para os trabalhadores desta Universidade” (Jun – Aposentado Área da Saúde)