
No próximo sábado, 28 de junho, celebramos o Dia Internacional do Orgulho LGBT+. Mais do que uma data comemorativa, este é um dia de luta, memória e afirmação de identidades e orientações que rompem com a heteronormatividade historicamente imposta de forma violenta e normativa em todo o mundo. A data marca as revoltas de Stonewall, quando, há 56 anos, a comunidade LGBT+, com destaque para as pessoas trans e travestis, se levantou contra a repressão policial em Nova York. Uma rebelião que entrou para a história como símbolo da resistência e do direito de existir com dignidade.
Junho, no Brasil e no mundo, é o mês das grandes Paradas do Orgulho LGBT+. Nas ruas, corpos diversos e vozes potentes reivindicam visibilidade, afeto e direitos. As Paradas são caracteristicamente festivas, mas são também espaços de denúncia e enfrentamento das múltiplas formas de opressão que seguem marcando nossas vidas.
No Estado de São Paulo, o tema unificado das Paradas deste ano é “Envelhecer LGBT+: memória, resistência e futuro”, trazendo à tona a dura realidade da primeira geração de pessoas LGBT+ que chegou à terceira idade após enfrentar a ditadura militar, a epidemia de AIDS e anos de invisibilidade social. Hoje, muitas dessas pessoas vivem na solidão e sob o abandono do poder público. No último domingo (22), a Avenida Paulista foi tomada pela maior Parada do mundo, e no próximo dia 29, Campinas sediará a maior Parada do interior do Brasil levantando esta pauta.
Na Unicamp, não sabemos quantos servidores PAEPE se reconhecem como LGBT+. Apesar de o recadastramento anual do Governo do Estado de São Paulo já incluir, há alguns anos, perguntas sobre orientação sexual e identidade de gênero, esses dados nunca foram divulgados. Isso é lamentável. Sem dados, não há política pública de qualidade. Ainda assim, é visível o crescimento da presença LGBT+ entre os servidores da universidade, o que nos leva a uma pergunta urgente: o que a Unicamp tem feito, de forma concreta, para acolher essas pessoas e enfrentar a LGBTfobia?
Vivemos no país que mais mata pessoas LGBT+ no mundo[1]. Pessoas trans têm expectativa de vida de apenas 35 anos em nosso país[2]. No Brasil, 62,5% das pessoas LGBT+ já tiveram pensamentos suicidas ou tentaram tirar a própria vida[3]. Propor políticas públicas de enfrentamento à homotransfobia na Unicamp é mais que uma questão de direitos: é uma questão de saúde pública, de dignidade e até mesmo de garantia de melhores condições de trabalho e produtividade para os servidores.
Embora a convivência com diferentes formas de vivência LGBT+ faça parecer que há liberdade em nossa universidade, a realidade mostra o contrário. Seguimos enfrentando diariamente casos de homotransfobia que vão de “piadas” ofensivas a comentários discriminatórios, passando pela recusa ao uso do nome social, exclusões em ambientes coletivos, barreiras a cargos de liderança e, em casos mais graves, violência psíquica e física. É urgente transformar essa realidade. Combater a LGBTfobia na Unicamp é tarefa inadiável de qualquer gestão que se pretenda defensora dos direitos humanos.
É verdade que, em 2020, a Unicamp deu passos importantes ao aprovar suas primeiras políticas institucionais voltadas ao enfrentamento das violências de gênero e sexualidade no trabalho. Foram criadas a Resolução GR-005/2020 (normas para o uso do nome social), a GR-086/2020 (criação do Serviço de Atendimento a Pessoas Vítimas de Violência baseada em Gênero e/ou Sexualidade) e a GR-106/2020 (Política de Combate à Discriminação baseada em Gênero e/ou Sexualidade e à Violência Sexual). Também foi realizado o curso “Atendimento na Perspectiva dos Direitos Humanos”, voltado aos servidores PAEPE, com um módulo específico sobre o combate à violência de gênero e sexualidade, que teve como um de seus instrutores nosso companheiro de Travessia, Fabio Cerqueira. Infelizmente, após poucas turmas, a gestão da universidade abandonou o programa, deixando um vazio institucional e abrindo espaço para o crescimento da violência.
Enquanto isso, a nova onda de extremismo conservador avança no Brasil e no mundo, tendo a população LGBT+ como alvo prioritário. Aqui na Unicamp, enfrentamos o descaso da Reitoria e, lamentavelmente, também o silêncio cúmplice da atual Direção do STU, que tem se mostrado omissa diante das necessidades urgentes de grande parte da nossa categoria.
Por isso, afirmamos com todas as letras: a luta por direitos LGBT+ também é uma luta sindical. Precisamos de uma nova direção no STU, que seja combativa, propositiva e verdadeiramente comprometida com a defesa da dignidade de todas e todos os servidores. Uma direção que não se cale. Uma direção que enfrente. Uma direção que esteja ao lado da nossa comunidade na luta por respeito, direitos e igualdade.
[1] https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2024/01/20/mortes-violentas-de-pessoas-lgbtqia-na-ba-2023.ghtml
[2] https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/brasil-e-o-pais-que-mais-mata-pessoas-trans-e-travestis-aponta-dossie/
[3] SOUZA, Humberto da Cunha Alves de; JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; REIS, Toni (org.) (2020). Ensaios sobre o perfil da comunidade LGBTI+. Col: Coleção Livres & Iguais. Curitiba: IBDSEX. ISBN 978-65-991261-2-3